Centro de Referência para Recuperação da Caatinga agoniza: Órgão científico e educacional pode fechar as portas por falta de recursos
Escrito por: André Pessoa
Publicado em: 11/09/2019
Enquanto o mundo se mobiliza em defesa da Amazônia chamuscada pela fumaça do retrocesso das politicas ambientais, a porta de entrada do "coração" do planeta, a relegada Caatinga que de tão mágica transforma folhas em espinhos para seguir adiante, continua virando deserto.
Pior. Seu mais completo banco de dados, o Centro de Referência para Recuperação de Áreas Degradadas da Caatinga (CRAD), órgão ligado ao Ministério do Meio Ambiente e a Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF), agoniza por falta de verbas e apoio.
Agora, na eminência da demissão dos últimos 5 funcionários incluindo um dos mais antigo deles responsável pela manutenção do viveiro, os pesquisadores e estudantes lançaram uma campanha de financiamento através da plataforma Vakinha: "Ajude o CRAD a continuar cuidando do Velho Chico e da Caatinga", numa referência ao rio São Francisco que corta grande parte do Bioma.
O CRAD tem como criador, baluarte e principal defensor o mestre José Alves de Siqueira Filho, autor da obra Flora das Caatingas do Rio Sao Francisco, ganhador do prêmio Jabuti de literatura em 2013. No documento postado na internet, Alves explica que nos últimos 13 anos, o CRAD vem produzindo ciência e tecnologia pioneiras sobre a vegetação nativa das Caatingas e do Rio São Francisco.
"O conhecimento sobre a biodiversidade se encontra em suas diversas coleções científicas com cerca de 24.000 amostras de plantas desidratadas no Herbário (Figura 01), 430 registros de madeiras na Xiloteca, 1.160 lotes de sementes no banco de germoplasma, além da capacidade de produção de 100.000 mudas nativas da Caatinga no viveiro, além de uma importante coleção viva de plantas endêmicas, raras e ameaçadas de extinção", garante o pesquisador pernambucano.
Figura 01. Material do herbário deteriorado por ataque de praga.
Estas coleções são importantes para consulta dos alunos de diversos cursos de graduação e prós-graduação da Univasf e de todo o Brasil. Os experimentos de recuperação de áreas degradadas, por sua vez, apontam os principais fatores que causam a degradação e a desertificação da Caatinga e as técnicas mais adequadas para a recuperação funcional dessas áreas, assim como desenvolver protocolos de revitalização do Rio São Francisco, especialmente através da recuperação das matas ciliares.
Apesar da pequena quantia de R$ 35 mil estabelecida como meta da mobilização, depois de quase 30 dias de criação o programa não ultrapassou 3% a arrecadação, no fechamento dessa matéria, de R$1.165,00, deixando os responsáveis pelo projeto ainda mais desesperados. Num momento aonde até as bolsas do CNPq estão ameaçadas por falta de recursos, a resistente Caatinga continua enfrentando seus dramas.
11/09/2019